Meu time de infância era o Sport. Por que as opções eram o Sport de voinha ou o Náutico de painho, e a torcida de voinha era muitíssimo mais animada.
Cresci um pouquinho e passei a responder Íbis, quando as pessoas perguntavam qual o meu time. Por que ganhei uma camisa massa, além de que essa resposta já dizia tudo sobre a falta de furor futebolístico na minha vida.
Já véia, fui jogar com as amigas numa escolinha de futebol soçaitch para moças, desculpa ótima pra um encontro semanal oficial e terapia de descarrego dos estress. A gente vivia cheia de ronxas, arranhões e se xingava com paixão. Dani têm sequelas até hoje, de uma entrada na canela muito covarde, de minha autoria. Sempre que pode joga isso na minha cara, versão dramaplus, só por que teve que entrar na igreja, pra casar, sequelada. Aí eu faço uns Brownies, invento uma Weifada pra aliviar a culpa e o amor reina.
Nunca fiz um gol na vida, nem batendo pênalti, mas foi uma época do caráleo. Comecei a assistir jogos que não eram do Brasil pra enriquecer a técnica (sic) e até gostava. Foi nessa época que li Febre de Bola, a título de pesquisa e por causa de Nick Hornby. De quebra virei meio torcedora do Arsenal, claro, e por um tempo até acreditei que tinha desenvolvido um verdadeiro amor de nascença pelo futebol.
Nada, nadinha além do velho ôba ôba de Copa, que não falha.
Acho ruim não, até gosto, mas não é aquela paixão entranhada, nem vício, nem religião. Morro de inveja dos empolgados viscerais. Não tô falando de fanatismo hooligan, nem desses apaixonados do inferno estilo Linha Direta, mas daquele amor tipo o de Ivis pelo "santinha", vê que fofo. Como o de Teresa, minha amiga de labuta, também tricolor, que sabe tudo até de campeonato de bairro. Apaixonada fiel e incansável, toda semana chega no trabalho com uma espécie de fanzine tosco com uma compilação de charges e piadinhas pra atacar os perdedores da vez. Já virou até tradição, o povo primeira coisa que faz depois de um jogo é chegar logo cobrando um exemplar. Ou enchendo a pobre de revanches, o que ficou mais comum nos últimos tempos, por que você sabe.
Mais complexo do que o amor pelo futebol, é entender de onde vem o amor pela camisa. E por que tanta devoção quando os próprios jogadores vivem nesse troca troca tudo por dinheiro. E por que é obrigatório torcer pelo time, acima de todas as coisas, mesmo ele estando péssimo. Tradição de família, genética, implante no cérebro? Faço a menor idéia.
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Arrodeio imenso só pra dizer que não sou uma daquelas legítimas que não soltam as tiras e que Copa do Mundo pra mim é amor de verão, beijinho de carnaval, paixão sazonal. Mas enquanto dura é aquela história, e eu, só mais uma engolida pela ôla tsunami, quando vejo tô torcendo, sofrendo, pulando e chorando. Me esguelo e me acabo.
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E é lindo ver o povo amarelinho na rua, todo mundo que saiu mais cedo de quase todos os trabalhos do mundo. Fico incrivi.
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Vi cada jogo num lugar diferente pra chegar a conclusão de que não tem lugar melhor do que o nosso lar, incluindo sofá confortável e tv no ângulo perfeito. Primeiro o jogo, sem aquelas buzinas descontroladas no pé do ouvido (por que o povo acha que é uma boa idéia de integração social chegar no recinto buzinando) e aí depois, a farrinha full power comemorativa.