O dia em que engoli o mundo
De todos os livros de receitas do mundo, o que eu mais desejo de com força e que nunca vou ter, é um Livro de Receitas da Avó, ou da Tia Fulaninha que seja, com as receitas secretas da família.
No Livro é onde estão escondidas as melhores receitas do mundo, testadas e aprovadas em almoços de domingo, jantares de Natal e festas juninas, por gerações e gerações de comilões. As pamonhas mais macias, o bolo mais fofinho, os biscoitos que derretem na boca, Pastéis de Nata e toda uma gama de delícias, que remetem diretamente a roupas manchadas, uma enorme mangueira no jardim, balões de São joão (naquela época, parece que não eram perigosos), caminha quentinha com beijo de boa noite e casquinhas de ferida. Um mundo de segurança gastronômica.
É uma frustração não ter o Livro. Um verdadeiro trauma na minha vida, desde que descobri o mundo maravilhoso da cozinha. Isso foi, quando pela primeira vez, ajudei a fazer um bolo, acho que tinha uns seis anos, por aí. Quer dizer, ajudar, naquela época, era ficar brincando com a gema, passando-a de uma mão para outra, até a pobre estourar de impaciência. Era ficar metendo o dedo furtivamente na mistura de manteiga, açúcar e gemas, que pra mim sempre foi muito melhor do que lamber a tigela no final, com a devida permissão que tirava toda a graça da coisa. E, muito raramete, bater um pouquinho o bolo, morrendo de medo de esquecer e inverter a direção, levando-o a desgraça total que é um bolo solado.
Quando descobri que amava cozinhar e comecei a recortar as receitas das latas de Leite Moça, a primeira coisa que procurei, foi o Livro de Receitas da Avó. Imagine qual foi a minha decepção, ao descobrir que nem a minha vó de Campina Grande, que fazia a melhor tapioca do mundo, nem a minha vó daqui, que faz ainda cozidos e feijoadas inesquecíveis, tinham o hábito de catalogar as receitas secretas da família num caderninho que fosse, pra me deixar de herança, quanto mais num valioso Livro de Receitas da Avó. No caso da minha vó daqui, é ainda mais complicado, por que mais tarde descobri que ela não era exatamente uma excelente cozinheira, mas sim uma gerente de cozinha sem igual. Minha vó sempre mandou bem, literalmente, mas até hoje não sabe nem abrir uma lata.
Não sei de quem herdei esse hobby vital e que me traz tantas aflições com a balança. Das avós eu já falei. Mainha, faz o melhor bacalhau. E tem umas tias que cozinham muuito. Mas ninguém da família, pelo menos que seja do meu conhecimento, tem tamanho amor pela comida e por tudo que se relaciona a ela.
Amor que já me fez gastar os suados com livros de receitas que usam ingredientes simplesmente inexistentes por aqui, apetrechos de cozinha que não servem nem pra enfeite e um conjunto de mais de cinquenta peças de barro para feijoada, que nunca foi usado. Até namoro já acabei, em plena lua de mel em Paris, por causa de Padarias. Na verdade, por que o Insensível em questão, teve a audácia de dizer que pão era tudo igual. Heresia! Blasfêmia!
Só sei que a falta do Livro na minha vida, ocasionou um terrível trauma, que me fez primeiro começar a colecionar, obsessivamente, receitas e os livros de culinária mais variados. Depois, registrar as minhas próprias receitas, pensando é claro, na minha netinha. Foi assim que começou O dia em que engoli o mundo ou O Fantástico Caderno das Receitas Não Publicadas da Vovó. A vovó, no caso, sou eu amanhã.
PS: Eu ainda preciso muito de um Livro de Receitas da Avó, principalmente se for de receitas secretas de família. Seja qual for a família. Aceito doações e ou empréstimos.
No Livro é onde estão escondidas as melhores receitas do mundo, testadas e aprovadas em almoços de domingo, jantares de Natal e festas juninas, por gerações e gerações de comilões. As pamonhas mais macias, o bolo mais fofinho, os biscoitos que derretem na boca, Pastéis de Nata e toda uma gama de delícias, que remetem diretamente a roupas manchadas, uma enorme mangueira no jardim, balões de São joão (naquela época, parece que não eram perigosos), caminha quentinha com beijo de boa noite e casquinhas de ferida. Um mundo de segurança gastronômica.
É uma frustração não ter o Livro. Um verdadeiro trauma na minha vida, desde que descobri o mundo maravilhoso da cozinha. Isso foi, quando pela primeira vez, ajudei a fazer um bolo, acho que tinha uns seis anos, por aí. Quer dizer, ajudar, naquela época, era ficar brincando com a gema, passando-a de uma mão para outra, até a pobre estourar de impaciência. Era ficar metendo o dedo furtivamente na mistura de manteiga, açúcar e gemas, que pra mim sempre foi muito melhor do que lamber a tigela no final, com a devida permissão que tirava toda a graça da coisa. E, muito raramete, bater um pouquinho o bolo, morrendo de medo de esquecer e inverter a direção, levando-o a desgraça total que é um bolo solado.
Quando descobri que amava cozinhar e comecei a recortar as receitas das latas de Leite Moça, a primeira coisa que procurei, foi o Livro de Receitas da Avó. Imagine qual foi a minha decepção, ao descobrir que nem a minha vó de Campina Grande, que fazia a melhor tapioca do mundo, nem a minha vó daqui, que faz ainda cozidos e feijoadas inesquecíveis, tinham o hábito de catalogar as receitas secretas da família num caderninho que fosse, pra me deixar de herança, quanto mais num valioso Livro de Receitas da Avó. No caso da minha vó daqui, é ainda mais complicado, por que mais tarde descobri que ela não era exatamente uma excelente cozinheira, mas sim uma gerente de cozinha sem igual. Minha vó sempre mandou bem, literalmente, mas até hoje não sabe nem abrir uma lata.
Não sei de quem herdei esse hobby vital e que me traz tantas aflições com a balança. Das avós eu já falei. Mainha, faz o melhor bacalhau. E tem umas tias que cozinham muuito. Mas ninguém da família, pelo menos que seja do meu conhecimento, tem tamanho amor pela comida e por tudo que se relaciona a ela.
Amor que já me fez gastar os suados com livros de receitas que usam ingredientes simplesmente inexistentes por aqui, apetrechos de cozinha que não servem nem pra enfeite e um conjunto de mais de cinquenta peças de barro para feijoada, que nunca foi usado. Até namoro já acabei, em plena lua de mel em Paris, por causa de Padarias. Na verdade, por que o Insensível em questão, teve a audácia de dizer que pão era tudo igual. Heresia! Blasfêmia!
Só sei que a falta do Livro na minha vida, ocasionou um terrível trauma, que me fez primeiro começar a colecionar, obsessivamente, receitas e os livros de culinária mais variados. Depois, registrar as minhas próprias receitas, pensando é claro, na minha netinha. Foi assim que começou O dia em que engoli o mundo ou O Fantástico Caderno das Receitas Não Publicadas da Vovó. A vovó, no caso, sou eu amanhã.
PS: Eu ainda preciso muito de um Livro de Receitas da Avó, principalmente se for de receitas secretas de família. Seja qual for a família. Aceito doações e ou empréstimos.